domingo, 9 de outubro de 2016

Fossilizado



Pás às mãos
Sai o homem a campo
A cabeça encoberta
Sob o sol escaldante
É manhã em sua vida.

Os passos abrem-lhe as portas
Escava, lapida, implode
Rasga o vale
O cirurgião da paisagem
Machuca a terra
Viva e vermelha que
Feito ferida aberta sangra
E parte, genitália à mostra,
A parir a história do mundo.

Mas não há caminho profundo
Que não deixe também sua marca.

Agora ele é a rocha
Em cuja pele craquelada
Veem-se os sulcos da alma
Dividida:
À frente, o amanhã
Sempre precipício
Às costas,
A matéria antiga
De que é feito
Memória sedimentada
Em um coração
Fossilizado.