domingo, 9 de outubro de 2016

Fossilizado



Pás às mãos
Sai o homem a campo
A cabeça encoberta
Sob o sol escaldante
É manhã em sua vida.

Os passos abrem-lhe as portas
Escava, lapida, implode
Rasga o vale
O cirurgião da paisagem
Machuca a terra
Viva e vermelha que
Feito ferida aberta sangra
E parte, genitália à mostra,
A parir a história do mundo.

Mas não há caminho profundo
Que não deixe também sua marca.

Agora ele é a rocha
Em cuja pele craquelada
Veem-se os sulcos da alma
Dividida:
À frente, o amanhã
Sempre precipício
Às costas,
A matéria antiga
De que é feito
Memória sedimentada
Em um coração
Fossilizado.

terça-feira, 5 de abril de 2016

Teadorar

(para a amiga Isadora, em comemoração aos seus 30 anos)

Teadorar, Isadora
Das asas de Ísis
No voo fecundo
Da imaginação

Teadorar, Isadora
Na aurora dourada
Amizade-andorinha
Em revoada-verão

Teadorar, Isadora
E contigo ser par
Sem pressa no passo
Me ensina a passar

Teadorar, Isadora
E também te deixar
Sê inteira saudade
Que eu possa levar.


terça-feira, 15 de março de 2016

Instante ao mar

a aspereza da pele
banhada de sol
tem saudades de ir ao mar
juventude, onde as ondas quebram
o coração rebento
da deriva ao delírio
num sempre afogar-se,
renasce.
e o tempo, mar revolto,
traz à praia a ilusão de tê-lo
sob a espuma desfeita,
migalhas e restos de vidas
de onde os pés não alcançam
o chão.